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Conheça o trabalho da Frente dos coletivos carcerários do Rio Grande do Sul

  • conexaosolidaria21
  • 25 de jun. de 2021
  • 10 min de leitura

Atualizado: 1 de jul. de 2021

Confira a entrevista de Lisiane Pires, responsável pelo projeto


A ressocialização do encarcerado passa pelo Frente dos coletivos carcerários do Rio Grande do Sul, com comissões por todo estado, o projeto busca auxiliar e somar de modo geral as famílias e os encarcerados na busca pela união, vínculo familiar e apoio para que o processo de ressocialização seja natural, com a base familiar.


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Confira a entrevista de Lisiane Pires, idealizadora do projeto:


CS (Conexão Solidária): Se apresente pra nós, fale mais sobre ti a tua pessoa em si. Seja muito bem-vinda. LISIANE: Obrigada, bom dia a todos, todas e todxs, é um prazer estar conversando com vocês. Pra nós estar tendo essa oportunidade de conversar, de contar um pouquinho da nossa história é algo muito importante, nós acreditamos que o espaço de fala, a ocupação de espaço nos ajuda a transmitir a mensagem de responsabilidade social que eu acredito que seja fundamento do nosso trabalho. Eu sou Lisiane Pires, faço da coordenação da frente dos coletivos carcerários do Rio Grande do Sul, que é uma organização da sociedade civil, aonde viemos trabalho essa questão de responsabilidade social, dentro do sistema carcerário. Pra iniciar eu vou contar um pouquinho da nossa história, de como surgiu essa ideia. Eu sou familiar do Cárcere, eu visitei o sistema Carcerário no período de 2017 e 2018, esse período foi bem tenso, visitei o sistema, acompanhei como funciona, entendi as dificuldades, mas ao mesmo tempo veio aquele pensamento de como diminuir aquele impacto na vida das pessoas. Foi criado, eu idealizei então a primeira comissão carcerária aqui no Rio grande do Sul, que a ideia iniciar era acolher os familiares que visitam o sistema carcerário pra diminuísse as dificuldades. E ai foi fomentando, criando estratégias de trabalho, foi fazendo uma apresentação para o setor executivo do Estado pra tomasse conhecimento desse tipo de atendimento, uma forma mais humanizada pra se trabalhar junto as pessoas e com o passar do tempo a gente foi aumentando o alcance.

CS (Conexão Solidária): Vocês já tiram resistência tipo de moradores próximos as famílias que vocês atendem, como que foi a aceitação do povo que vê de fora o projeto. LISIANE: Na verdade a gente percebe que há um preconceito muito grande, como eu falei, nessa questão do desconforto da sociedade pra tratar esse tema, mas quando a gente traz o trabalho de uma comissão, a conhecimento público, quando a gente traz um formato a frente dos coletivos a conhecimento público, gera uma sensação que eu acredito ser de curiosidade das pessoas, e nós acreditamos muito que com o conhecimento desse tipo de ação ajuda a combater o preconceito. As pessoas tem uma visão bem limitada com toda essa pauta, e quando a gente começa a tratar dela, falar a respeito, fazer um olhar mais humanizado, trazer a realidade pra fora, eu costumo dizer, tirar de debaixo do tapete a sujeira, as pessoas começam a pensar sobre e isso acaba sendo uma forma de combate ao preconceito, então se eu te disse que há alguma pressão, uma opressão da sociedade diretamente a organização seja ela a comissão ou num todo frente dos coletivos, a gente não percebe isso. As pessoas quando comentam em publicação de Facebook ou Instagram, esse tipo de coisa, as pessoas comentam de forma negativa muitas vezes, mas no contexto todo, nunca fica questionável o trabalho. Eu acho que as pessoas começam entender a necessidade de um trabalho voltado, não que elas queiram se envolver, mas ela consegue entender que existem pessoas envolvidas, e que de certa forma essas pessoas estão fazendo um papel importante. Então diretamente assim, a gente não tem nenhum relato, de estar sofrendo esse tipo de preconceito diretamente.


CS (Conexão Solidária): é projeto jovem, ai eu te pergunto, o que motiva continuar com ele, até justamente por todas essas necessidades que se tem, o que se faz pra levantar a cabeça e seguir em frente. LISIANE: Tem uma coisa muito interessante em tudo isso, em trabalho em varias frentes, tudo que é ligado a desigualdade, combate ao preconceito, racismo, intolerância, vamos dizer assim, é da minha própria natureza. Então eu sou uma pessoa que me criei na periferia de Porto Alegre, então a gente vivencia desde cedo quais são as necessidades, como a desigualdade nos afeta, e temos duas opções ou a gente baixa a cabeça e aceita tudo naturaliza essas questões ou a gente enfrenta elas né, então, hoje mesmo eu faço trabalhos voltados pra questão da negritude, de racismo, então eu faço parte da coordenação do movimento Negro Raiz, faço trabalho a comunidade indígena no município onde eu moro e quando eu conheci o Cárcere me despertou esse outro olhar, que a gente pode relacionar com todas essas outras lutas acabam refletindo dentro de cárcere, quando a gente pensa em um contexto maior, o que é o cárcere, ele é nada mais nada menos que o reflexo da escravidão, e ele ta segmentada assim, ele ta fortalecido, enraizado no sistema carcerário, de uma forma tão naturalizada que as pessoas acabam não percebendo, então eu acho que essas vivências, essa questão da desigualdade, os reflexos que ela tem em todos os setores faz com que a gente pense o que fazer pra mudar ou pelo menos amenizar, nós somos muito fortalecidas pela dor, porque todas as pessoas que estão de frente nesse trabalho carcerário, são pessoas que de alguma forma sentem ou vivenciaram a dor de visitar ou presenciar ou de acompanhar. Nós temos muitos parceiros, temos advogados voluntários que nos ajudam a fortalecer a luta, Juízes, defensores públicos.


CS (Conexão Solidária): Quem é a equipe de vocês? Se vocês pudessem nos dar um panorama, vocês iniciaram com um grupo determinado e isso cativou outras pessoas a ajudarem vocês, foi mais ou menos isso? LISIANE: Exatamente, quando houve a formação da primeira comissão carcerária, começou eu, mas logo assim eu fui levando a proposta, outra familiares fortaleceram, acreditaram na proposta, também conversei com advogados, também costumo dizer que existem muitos advogado humanistas, que se disponibilizaram a ser voluntários, não para trabalhos individuais, mas de forma coletiva visando o bem estar coletivo das pessoas. Eu sempre digo que a melhor propagando é o boca a boca, assim foi aumentando o alcance, hoje existe uma rede, eu posso te dizer que é uma rede muito forte, com pessoas que tem essas visão humanista, e por mais distante que possa parecer, por exemplo, pessoas do poder judiciário, eu, por exemplo, tinha uma visão muito distante deles, um Juiz, um desembargador, um promotor, um defensor público, hoje existem muitas dessas pessoas que se identificam com a causa e ajudam a promover, movimentar e fortalecer.


CS (Conexão Solidária): Tu já percebeu que houve algum dos teus colaboradores teve alguma mudança de quando ele entrou e como esta agora, mudou muito o jeito dele conforme ele foi tendo contato com essa realidade que vocês ajudam no projeto. LISIANE: Os colaboradores de base, que nem a gente chama, assim, que são essas famílias que vivenciam bastante essa questão carcerária e se dispõem a ser representantes de uma comissão, essas pessoas vem de um realidade muitas vezes muito limitada, dentro do nosso grupo, por exemplo, a gente faz formação, a gente tem encontros semanais pra fortalecer umas as outras. Uma coisa que que é bacana de falar, uma coisa assim, se eu pedir pra vocês hoje, tanto Matheus quando o Otavio, quando vocês pensam em uma atividade onde os familiares de encarcerados estão fazendo um manifesto, eu consigo perceber que antigamente a primeiro visão que se tinha era, bagunça, pessoas gritando, batendo panela, fazendo uma manifestação barulhenta, muitas vezes até desorganizada, vamos dizer assim, hoje, depois que a gente se juntou, a gente formou esse coletivo, o principal de tudo isso é o fortalecimento do diálogo, então a gente vem trazendo essa ideia paras pessoas, que muitas vezes no universo delas isso nem existia, e a gente vai sentindo e observando entre as colegas de luta, que elas vão ampliando o olhar delas, há um crescimento muito grande, se vocês tivessem a oportunidade de conversar com representantes lá do início da formação e hoje, vocês perceberiam a mudança gigante que houve dessa visão de fortalecimento de diálogo. Então aos poucos a gente percebe que isso vai melhorando bastante, assim, existe resistência, é grande, mas as pessoas acabam tendo que ceder ao obvio, porque a lei é feita pelo estado e muitas vezes o estado esquece de cumpri-las, e a gente esta aqui pra lembra-los.


CS (Conexão Solidária): No início você comentou sobre a Pandemia brevemente, até porque o briefing que chegou até nós foi o Cárcere e a Pandemia, como funcionaram as atividades de vocês durante a Pandemia. LISIANE: Na verdade assim, tudo que envolve o sistema carcerário ele é muito difícil de lidar, há uma limitação muito grande de atendimento e toda essa ótica humanizada. Com surgimento da pandemia, o maior percalço que se estabeleceu foi a perda dos vínculos familiares, a manutenção da visitação, o contato do preso com o mundo exterior e como é que isso acontece, através da sua família, da sua visita, então assim, o preso na verdade ele é encarcerado e ele não perde somente a liberdade, que é o que diz na lei né, ela é privada de liberdade, essa pessoa não deixa de ser um ser humano, de ser cidadão, ela apenas esta privada do direito de ir e vir, ele fica ali limitado, e a família é a ferramenta, posso até dizer que é a única ferramenta efetiva no processo de ressocialização, porque é a família quem coloca essas pessoas em contato com o exterior, faz com que eles ainda se sintam parte da sociedade. Com a pandemia, essa quebra, claro que não é uma exclusividade do sistema carcerário, a gente sentiu isso em todos os setores, mas no sistema carcerário, esse problema fez com que houvesse um isolamento tão grande, que essas pessoas ficassem ainda mais marginalizada do que estavam. Então houve muito a quebra de manutenção de direitos, houve também tortura durante a pandemia, que muitas pessoas não tem essa noção, porque a partir do momento que tu quebrou os laços familiares de maneira brusca como aconteceu, é uma forma de tortura, quanto pro preso, quando pra família. Existe um contexto ainda maior, gigante em relação a isso, vocês imaginem quanto sociedade os reflexos que há na criminalidade aqui fora, porque, porque dentro da prisão, essas pessoas estão presas, mas isso não significa a diminuição de criminalidade aqui fora, pelo contrário, hoje a gente tem uma visão de que só aumenta a criminalidade e pra isso, tem que aumentar o número de cadeias pra que se tenha ainda mais pessoas encarceradas, estamos fazendo um trabalho reverso, não é mais vagas que diminui a criminalidade, é pensar na ressocialização de fato pra diminuir a criminalidade, quando a gente pensa assim, ah o cara teve uma vida difícil, ou talvez não, antes a gente tem que pensa o que quanto nós sociedade estamos fazendo pra diminuir tudo isso, eu sempre digo que a desigualdade social esta muito perto daquilo que termina no cárcere, ah mas eu tive uma infância difícil e nem por isso eu cometi um crime, com certeza existem opções, existem maneiras de encarar a vida, se a gente pudesse trabalhar la na origem, se existissem políticas publicas efetivas trabalhando dentro das comunidades periféricas, com certeza o crime não seria o mocinho da história.


CS (Conexão Solidária): Qual a maneira de encontrar vocês, redes sociais, WhatsApp, se tiver algum endereço, de alguma SEDE de física de vocês, como é que funciona. LISIANE: Bom, é, o nosso principal canal de comunicação é através da rede de Facebook, através da pagina da Frente dos coletivos carcerários do Rio Grande do Sul e através do Facebook cada comissão tem sua identificação, por exemplo, tem comissão carcerária de Bento Gonçalves, Comissão Carcerário de Montenegro, Comissão Carcerário de POA, normalmente o nome de identificação é da casa prisional, pra ficar mais fácil, a identificação, então as pessoas vão participando dessas redes sociais, na rede principal são onde elas se identificam, onde elas visitam e a gente vai estar direcionando para as comissões que vão esta atendendo elas diretamente. Não existe um espaço físico oficial, por exemplo, nos nossos documentos o espaço físico que aparece é o meu endereço, então aqui na Serra Gaúcha a gente tem espaço pra atendimento, depois a gente faz os atendimento diretamente em frente as casas prisionais, então por conta da pandemia nosso atendimento é muito maior de forma virtual, do que físico. No atendimento físico a gente faz o que, em dias de entrega de sacola, as representantes das comissões ficam em frente as casas prisionais dando assistência, todo esse atendimento as pessoas que visitam. As pessoas que querem ajudar, daqui a pouco tem pessoas que gostam, se identificam com a causa, podem participar, toda a participação é bem-vinda, por exemplo vocês, ah eu quero ajudar a fazer um trabalho de divulgação, vamos fortalecer a luta, vocês vão chama a nossa rede e a gente vai ampliar isso tudo, ah eu sou contadora, eu quero ajudar vocês com alguma questão de contabilidade, vai nos chamar ali pela pagina principal e a gente vai conversa e ver de que forma a gente pode estar se ajudando, lembrando que hoje tudo é virtual, e a gente aprendeu a lidar com essa questão, não importa se a pessoa esta no interior ou na Serra ou no litoral, onde ela estiver ela vai poder ajudar, isso é uma facilidade muito importante, então assim, se cada pessoa, dentro da sua realidade vai poder ajudar com materiais, o que a gente mais recebe e tem recebido é materiais de higiene por conta da pandemia, a gente recebe muito material, como agua sanitária, sabão, mascara, álcool gel, álcool 70, pra que a gente utiliza? A gente utiliza no atendimento dessas famílias, desses visitantes, em frente as casas prisionais, ajudando eles a manterem a higienização pra que não aumente a contaminação, fizemos também kit de higiene pra encaminhar pra dentro das casas prisionais, então a gente faz algumas ações em algumas determinadas casas que estão com surtos, com grande numero de apenados e agentes, então as comissões se organizam, recebem essas doações e criam kits de higiene pra mandar pra cada cela desta casa prisional, então é passado pelo processo de revista, tudo normal e a gente separa um kit pra cada cela. A questão feminina dentro do cárcere que é uma situação muito precária, muito delicada, as mulheres via de regra são as mais abandonadas dentro do cárcere, então a maioria delas não tem esse suporte familiar, então as comissões elas vem buscando esse suporte, e a gente faz muitos kits de higiene pra essas pessoas, a gente monta sacola de alimentação pra entregar pra essas pessoas que não tem o vinculo familiar, então todas as doações são bem-vindas. A gente através da rede social vai articulando, forma de entrega, digamos que vocês querem fazer uma doação, mas vocês moram em Porto Alegre, então a gente tem no mínimo duas comissões carcerárias que atendem casas prisionais ai, a gente vai colocar vocês em contato com essas representante, elas vão receber o material, elas vão organizar, separar e vão fazer a entrega, toda a ajuda é bem-vinda. Nós que agradecemos a oportunidade de estar participando e dando visibilidade ao nosso trabalho.

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Transcrição - Diego Rezes

Entrevista - produção de Verônica de Oliveira Julia Vilanova; produção, edição e apresentação Mateus Oliveira e Otávio Haidrich

Editado - Mar Muller e Pedro Diniz

Fotos selecionadas - Vitória Almeida

Supervisão - professora Michelle Raphaelli

 
 
 

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